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Transcrição do Diário - Vol I e II de Getúlio Vargas: "Na terça-feira, 25, resolvi ir ao Rio consultar um dentista. Darci assentou acompanhar-me, dizendo que também precisava ir. Após o almoço, partimos eu e ela, Getulinho e um ajudante-de-ordens, o comandante Machado. De chegada, fiquei no dentista, e os outros seguiram para o Catete. Logo após, vinha para acompanhar-me o capitão-tenente Celso Pestana, meu novo ajudante-de-ordens, que ainda não dera serviço. Vinha a pedido do Machado, cuja mãe estava doente, para substituí-lo. Fui ao Catete, despachei o ministro do Exterior e Agricultura, recebi algumas audiências e regressei mais ou menos às 18 horas para Petrópolis. De começo, chovia e ventava. Melhorou um pouco o tempo, subimos a serra, entramos na zona dos viadutos, passamos por um volumoso tronco de madeira, desviando-o recomeçou a chuva e o vento. Repentinamente, no sei da nota trevosa, um estrondo como uma explosão. Senti um choque formidável sobre as pernas que me imobilizou. Parou o auto, verificamos a catástrofe: uma pedra rolara da montanha atravessara a capota do auto e atingira em cheio o comandante Celso Pestana, que caiu fulminado, sem um gemido. Eu estava na direita, não sendo atingido. Aguardamos a chegada do auto da polícia. Foi retirada a pedra e marchamos no próprio auto sinistrado para o Hospital São José. Foram vinte minutos de angústia. Eu imobilizado num canto, tendo sobre as pernas o banco quebrado e o corpo do mologrado oficial. Darci deitada sobre o banco, com a cabeça no meu ombro, ensanguentada, com a perna fraturada, gemia lamentosamente sob a pressão daquele duplo choque. Assim chegamos ao hospital. Transportados para o leito foram solicitados, chamados os médicos Florêncio de Abreu e Castro Araújo, assistidos espontaneamente po Pedro Ernesto e Haroldo Leitão da Cunha. Depois da notícia divulgada, a impressão causada, a avalanche das visitas as confortantes demonstrações de carinho etc. Os curativos, os cuidados médicos. Eu, com três fraturas sem gravidade, fui estudado em aparelho de gesso, imobilizado no leito, aguardando a consolidação - obra do tempo. Minha mulher, pobre sofredora, com uma fratura exposta, já com os vibriões de decomposição apurados em exame, ameaçada de gangrena atravessa o período álgido da observação clínica. Encerro esta página. Só Deus sabe o que o futuro reserva."
Ana Arruda Callado lançou em 2011 o livro "Darcy, a outra face de Vargas", no Palácio do Catete, onde conta o episódio ocorrido na Rio-Petrópolis.